A Política Marítima da União Europeia
Enquadramento. Políticas Europeias. A Política Europeia e a Proteção dos Mares.

Destaques:
- Atualização da Estratégia de Segurança Marítima da UE e do seu plano de ação | Participação até 8 de setembro
Comissão Europeia | 16.06.2022 - Relatório sobre a economia azul da UE: economia dos oceanos alimenta transição ecológica europeia [en]
Comissão Europeia | 20.05.2022 - Proteção do meio marinho: UE assina plano de ação regional para um mar Báltico limpo e saudável
Comissão Europeia | 20.10.2021 - Pacto Ecológico Europeu: Desenvolver uma economia azul sustentável na União Europeia
Comissão Europeia | 17.05.2021
Devido à sua geografia, a Europa, desde tempos longínquos, mantém uma relação singular com os mares e oceanos. Dos 27 Estados-Membros, 22 têm zonas costeiras, representando grande parte das fronteiras externas da União.
A Europa está circundada por quatro mares – Mediterrâneo, Mar Báltico, Mar do Norte e Mar Negro – e por dois oceanos – Atlântico e Ártico. A UE marca, ainda, presença no oceano Índico e no mar das Caraíbas através das suas regiões ultraperiféricas (RUP). As regiões ultraperiféricas englobam o conjunto de territórios dos Estados-Membros que se encontram localizados em zonas do planeta distantes da Europa. São eles: Guadalupe, Guiana Francesa, Reunião, Martinica, Maiote, São Martinho (França), Açores e Madeira (Portugal) e Ilhas Canárias (Espanha).
Cerca de 40% do PIB da UE é gerado nas regiões marítimas e 75% do volume do comércio externo da União é efetuado por via marítima. Neste contexto, as questões marítimas são cruciais para a União Europeia e para os seus Estados-Membros. Em 2006, escrevia Tiago de Pitta e Cunha para a revista "Europa: novas fronteiras": Para os Estados costeiros – onde se inclui Portugal – reconhecer o imenso valor político, estratégico, económico, ambiental e cultural dos oceanos é fundamental. Também para a Europa, ainda mais do que para o mundo em geral, os oceanos têm um papel crucial. Tiveram-no no passado, têm-no no presente e terão seguramente no futuro. De facto, os desafios económicos e ambientais com que a Europa se confronta, por si só, exigem uma atenção especial aos assuntos dos oceanos, bem como um proporcional investimento neste tema.

Reconhecendo que todas as questões relativas aos oceanos e mares estão interligadas e que, para obtermos resultados, devem ser aproveitadas todas as sinergias entre as diferentes áreas, sendo imprescindível que exista articulação em todas as políticas ligadas ao mar, a União Europeia depois de um vasto processo de consulta e análise lançou, em 2007, a Política Marítima Integrada (PMI) [en].
A PMI abrange áreas distintas como, por exemplo, o transporte marítimo, os portos, as pescas, a aquicultura, a energia eólica, a investigação marinha, o turismo, o emprego...
Políticas transversais da Política Marítima Integrada
A PMI compõe-se de um conjunto de políticas transversais que interagem e se complementam, a saber: crescimento azul/economia azul, estratégia de segurança marítima, conhecimento do meio marinho, ordenamento do espaço marítimo, vigilância marítima integrada e estratégias para as bacias marítimas integradas.
Economia Azul Sustentável
Em 2012 a Comissão Europeia lançou a iniciativa Crescimento Azul com o objetivo de aproveitar o potencial inexplorado dos oceanos, dos mares e das zonas costeiras da Europa para a criação de empregos, valor e sustentabilidade. O Crescimento Azul incluia áreas como a energia dos oceanos, a aquicultura, o turismo costeiro e marítimo, a exploração mineira dos fundos marinhos e a biotecnologia azul.
Considerando que a economia azul sustentável da UE é essencial para atingir os objetivos do Pacto Ecológico Europeu (roteiro para tornar a economia da UE sustentável) e para garantir uma recuperação ecológica e inclusiva da pandemia COVID-19, a 17 de maio de 2021, a Comissão Europeia apresentou uma nova abordagem para uma economia azul sustentável na UE intitulada Transformar a economia azul da UE para um futuro sustentável que substitui a abordagem anterior de 2012. A economia azul engloba diversos setores, que embora diferentes são interdependentes, com competências comuns e infraestruturas partilhadas – portos, redes de distribuição de eletricidade, etc. – dependendo o seu futuro de uma utilização sustentável do mar. Num dos eixos desta nova abordagem a Comissão propõe transformar a cadeia de valor da economia azul, assegurando:
- a concretização dos objetivos de neutralidade climática e de poluição zero
(desenvolvimento de energia marítima renovável, à descarbonização do transporte marítimo e à ecologização dos portos) - a economia circular e redução da poluição
(renovação das normas relativas à conceção das artes de pesca, à reciclagem de navios e ao desmantelamento de plataformas offshore, bem como medidas para reduzir a poluição decorrente dos plásticos e dos microplástico) - a biodiversidade e o investimento na natureza
(a proteção de 30 % dos mares da UE permitirá inverter a perda de biodiversidade e aumentar as unidades populacionais de peixes, contribuindo para atenuar as alterações climáticas, promover a resiliência e gerar benefícios financeiros e sociais) - a resiliência das zonas costeiras
(o desenvolvimento de infraestruturas verdes nas zonas costeiras e a proteção dos litorais contra o risco de erosão e de inundações, serão fundamentais para preservar a biodiversidade e as paisagens e beneficiar o turismo e a economia das zonas costeiras) - sistemas alimentares responsáveis
O atual sistema de produção e consumo de alimentos é um dos setores responsáveis pelas emissões de carbono, poluição e perda de biodiversidade. A Estratégia do Prado ao Prato para um sistema alimentar justo, saudável e respeitador do ambiente, lançada pela Comissão a 20 de maio de 2020, procura inverter a atual situação e de forma abrangente toca muitos aspetos da economia azul, incluindo a pesca responsável (para repor os stocks em níveis sustentáveis) a produção de algas como alternativa à agricultura e a aquicultura sustentável para complementar os limites naturais da captura selvagem. A 17 de maio de 2021, a Comissão complementou a sua ação nesta matéria com a adoção das Orientações estratégicas para o desenvolvimento sustentável da aquicultura da UE.
Nesta abordagem, propõe, ainda, criar o Observatório da Economia Azul da UE para promover projetos sustentáveis relacionados com os oceanos. O Observatório da Economia Azul da União Europeia, uma nova plataforma de comunicação para a economia azul sustentável viria a ser lançado a 19 de maio de 2022.
Estratégia de Segurança Marítima
A Estratégia de Segurança Marítima, aprovada pelo Conselho da União Europeia a 24 de junho de 2014, revista em junho de 2018, representa a dimensão marítima da Política Comum de Segurança e Defesa, permitindo à UE responder de forma eficaz aos desafios na área de segurança marítima.
A Estratégia tem como objetivos principais:
- Proteger os interesses europeus contra os riscos e as ameaças no domínio marítimo (criminalidade organizada e transfronteiriça, proliferação de armas de destruição maciça e riscos ambientais);
- Estabelecer objetivos políticos, princípios e áreas de apoio comuns de forma a garantir a coerência das várias políticas e estratégias marítimas sectoriais;
- Criar um entendimento comum ao nível da União Europeia - Estados-Membros e Instituições Europeias - sobre os interesses europeus no domínio marítimo, bem como sobre os riscos e ameaças que enfrentam, de forma a permitir uma resposta coerente e integrada a esses desafios.
Conhecimento do meio marítimo
Perante a dificuldade de aceder a dados sobre a área marítima uma vez que a recolha de dados era feita por instituições públicas dos Estados-Membros e, normalmente, para um determinado fim, o que se traduzia na falta de harmonização de normas, formatos e nomenclaturas, a União Europeia lançou a iniciativa Conhecimento do meio marinho 2020.
É neste âmbito que surge a EMODNET (Rede Europeia de Observação e de Dados Marinhos), rede de organizações que trabalham em conjunto na observação do meio marítimo e que tem como fim criar um sistema que permita identificar os dados existentes, facilitar o seu acesso e criar formas de os disseminar. A 25 de janeiro de 2023 a Comissão Europeia lançou o portal de balcão único para os dados sobre o meio marinho, integrando todos os dados num único portal.
O conhecimento do meio marítimo contribui, assim, para democratizar o conhecimento, facilitando não só o acesso dos profissionais aos dados do meio marinho, mas também dos cidadãos e das cidadãs em geral para que possam participar nas decisões sobre as zonas costeiras e sobre os mares.
Para além da EMODNET, outras fontes de informação podem ser consultadas, a nível da UE:
- o Centro Comum de Investigação [en] que criou um sítio web dedicado ao tratamento e disponibilização de dados sobre pescas;
- o Serviço de Estatísticas da União Europeia (Eurostat) [en] com uma área dedicada às regiões marítimas;
- o Programa Horizonte 2020, agora designado Horizonte Europa (2021-2027) que abrange diversos domínios de intervenção entre os quais mares e oceanos e;
- o Atlas Europeu dos Mares para alunos e professores.
E ao nível mundial:
- o Sistema de Observação Global dos Oceanos (GOOS) [en] e;
- o Conselho Internacional para a Exploração dos Mares (ICES) [en].
Ordenamento do Espaço Marítimo
Como refere a Comunicação da Comissão Europeia COM(2010)771, “o ordenamento do espaço marítimo [en] é geralmente definido como um processo pelo qual as autoridades públicas analisam e organizam a forma como as atividades humanas se distribuem no espaço e no tempo nas zonas marinhas para alcançar objetivos ecológicos, económicos e sociais.”
Não obstante cada Estado-Membro ser responsável pelo planeamento das atividades marítimas, perante os desafios atuais que a procura do espaço marítimo suscita – instalações de energias renováveis, transporte marítimo, atividades de pesca, conservação dos ecossistemas, turismo e instalações de aquacultura -, é necessário garantir uma utilização sustentável dos Mares e dos Oceanos. É nesse contexto que a Diretiva (UE) 2014/89 procurou estabelecer um quadro para o ordenamento do espaço marítimo e a gestão costeira integrada. A diretiva determinou a elaboração de planos de ordenamento do espaço marítimo pelos Estados-Membros, o mais tardar, até 31 de março de 2021. Consulte as transposições para o direito nacional aqui.
Vigilância marítima integrada
Tendo presente que os riscos e ameaças marítimas não respeitam as fronteiras nacionais ou administrativas e visando uma melhor gestão dos recursos públicos, evitando duplicação de investimentos, a UE desenvolveu um sistema de vigilância: o Ambiente Comum de Partilha de Informação/Common Information Sharing Environment (CISE).
O CISE integra os sistemas e plataformas de intercâmbio e partilha de informações existentes, permite aperfeiçoar o fluxo de informações entre as autoridades marítimas, possibilitando, assim, combater a criminalidade e proteger os navios mercantes e de pesca de possíveis ameaças, bem como melhorar as operações de resgate.
Estratégias regionais para as bacias marítimas
As regiões costeiras e ilhas são considerados pela UE atores-chave na economia azul. Uma vez que muitas vezes partilham a mesma bacia marítima, há um valor acrescentado na abordagem de desafios comuns e na proteção de bens comuns através da cooperação regional. Partindo deste pressuposto, a União Europeia tem vindo a desenvolver Planos de Ação específicos para cada uma das bacias marítimas, entre as quais se insere o Plano de Ação para o Oceano Atlântico.
Novo Plano de Ação para o Atlântico
julho de 2020.
Outras medidas de proteção dos mares e oceanos
Agências da União Europeia que contribuem para a proteção dos mares e oceanos
As agências são organismos descentralizados que contribuem para a implementação das políticas da União Europeia. Através da partilha de competências técnicas e especializadas, apoiam a cooperação entre a UE e as autoridades nacionais.

Agência Europeia do Ambiente (AEA)
A Agência Europeia do Ambiente tem como objetivo facultar informação sólida e independente sobre o ambiente e apoiar o desenvolvimento sustentável.
Sede: Copenhaga, Dinamarca

Agência Europeia de Controlo das Pescas (AECP)
A Agência Europeia de Controlo das Pescas tem como objetivo assegurar a correta aplicação da política comum das pescas, contribuindo para a conservação e sustentabilidade dos recursos biológicos marinhos.
Sede: Vigo, Espanha

Agência Europeia da Guarda de Fronteiras e Costeira (FRONTEX)
A Agência Europeia da Guarda de Fronteiras e Costeira assegura, em conjunto com os Estados-Membros, a proteção e o bom funcionamento das fronteiras externas, garantindo a segurança.
Sede: Varsóvia, Polónia

Agência Europeia da Segurança Marítima (EMSA)
A Agência Europeia da Segurança Marítima presta assistência técnica e operacional para melhorar a segurança marítima e a prevenção e o combate à poluição.
Sede: Lisboa, Portugal
© Foto topo: Alain Schroeder, Comissão Europeia.